sábado, 15 de junho de 2024

duas meninas, justine e juliette

justine conhece o desejo em três graus de longitude: a distância da palma da mão, nos romances que lê sozinha, sob o toque suave do lençol; pela janela do quarto, em que se mostra, segura, aos rapazes que passam; pelo temor das mãos ferozes que esperam em cada esquina da cidade. como me esquecer? há ainda, e não menos importante, os bales e jantares, em que aperta mãos gostosas, às vezes devagar para sentir-se apertada por elas. ou ainda, quando entrega seu corpo para dançar, de um lado ao outro do salão, em volúpia regrada pelo compasso da valsa.

lembro-me de juliette, sem conseguir esquecer de suas costelas salientes, a pele clara, quase transparente, fina como papel, para que escrevesse desregrado, como criança que desenha sem saber desenhar, meu desejo sádico impronunciável. sujeito de todos desejos possíveis, significante em cujo arbitrário introduzia todos discursos do mundo, atirava juliette para cima e para baixo, e ela ia para cima e vinha para baixo, sem reclamar, sem sequer uma queixa, silente, somente, como uma coisa, ou quando muito, quando abria a boca, uma atriz.

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