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sábado, 15 de junho de 2024

depois de kant: positivismo e metafísica no espaço transcendental

na história das ciências humanas escrita por foucault, a filosofia de kant adquire a importância de um singular acontecimento. depois de sua célebre crítica à metafísica, foucault indicará duas tendências opostas e conflitantes que, não obstante, estão erguidas sobre o mesmo terreno movediço deixado pela crise da representação clássica. 

tornada impossível a pretérita correspondência entre as palavras e as coisas, com a filosofia avançando na direção das relações transcendentais entre as representações, dos fundamentos subjacente a toda experiência, surgem duas escolas cuja guerra orientou a filosofia do XIX: por um lado, o positivismo, que declarado proibido o conhecimento das essências, despreza a metafísica como incognoscível, e se decide a estudar os fenômenos empíricos. por outro lado, nesse espaço criado pelo objeto transcendental, surgem as metafísicas especulativas, que procuram ultrapassar a penúria empírica do positivismo por acenos na direção da intuição, do imaginário. 

destas duas escolas pós-kantianas, os positivistas são assemelhados aos físicos, aos matemáticos, e por meio da linguagem métrica, da imaginação mecânica, procuram restituir aquela ordem perdida depois da crítica. os metafísicos, certamente mais próximo dos místicos, dos artistas (em sentido romântico, claro), ao passo que pareçam um tanto quanto pré-criticos em seu matafisicismo, em seus acenos na direção das essências, somente podem se constituir a partir da constatação da separação do ser e do fenômeno, da coisa e da representação, nesse vácuo que torna a ontologia um processo mais misterioso e enigmático.

foucault sobre o escatológico e o positivista, a promessa e a redução

interessados na discussão sobre dialética, abram a página 439 do "as palavras e as coisas de foucault", a seção "o empírico e o transcendental", em que foucault caracterizará o discurso positivista e escatológico, comte e marx, como de uma "ingenuidade pré-crítica" (p. 442).

o positivismo é um conhecimento da redução: um discurso que busca o ser discursivo anterior a qualquer discurso, capaz de falar o objeto em sua pureza pré-linguística, e por que não?, pré-humana, para-humano, meta-humano, etc.

a escatologia, por sua vez, é o discurso da promessa: o objeto será conhecido em sua pureza e nudez somente depois do discurso; será revelado por meio das críticas sucessivas ao discurso pretérito, sempre capazes de refazer e elevar sua relação com o objeto apreendido. é um discurso pós-linguístico, que por meio da linguagem, não obstante, ultrapassará os seus inconvenientes, para enfim conhecer aquilo que anteriormente era prometido conhecer.

no término da leitura de "as palavras e as coisas"

com as últimas notas, que crescem em retumbante operística, ainda a ressoar em meus ouvidos, termino enfim "as palavras as coisas". da densa história das ciências humanas, foucault conclui por sua brevidade: nascido velho, o homem encontrará desfecho tão logo aconteça o prometido desfecho. 

se por um lado sua obra é de análise meticulosa, de scholar, pesquisador profissional, por outro ela segue o caminho indicado por sua estrela-guia, nietzsche: confecção de saber que antes de tudo é mapa e bússola, forma de orientação no tempo e espaço do pensamento. estamos no limiar da humanidade, conclui foucault no apêndice profético feito à meticulosa história que escreveu: formado o homem na dispersão da linguagem, quando, no século XX, os indícios indicam seu re-congresso - a literatura, a linguística, o estruturalismo, a psicanálise - por que não concluir então por um desaparecimento desse mesmo homem cujo saber está delimitado por sua natureza finita, no reduplicar empírico-transcendental que lhe põe e lhe pensa no mundo o mundo (e vice-versa), que enxerga no seu pensamento a extensão do impensável a ser coberto pela razão, busca por uma origem ausente e prometida? desculpem se não falo em termos claros, somente tento formular a questão obscura do humano nas palavras que, pelo progresso lento, reiterativo e metódico do livro, foucault faz surgir de maneira clara em nosso espírito. é um livro, portanto, de paciência, cujo saber nasce por um progresso análogo a de uma viagem: não por expedientes conceituais que esclarecem de imediato um ao outro, em economia precisa de significação, mas em experiência em que a paisagem se desenha somente na extensão, nunca na brevidade do instante. por isso a lembrança tão francesa do ensaio cartesiano, que embora não recuse a ordem e o rigor da composição, seus termos estão em seu lugar em relação a uma extensão, uma escritura que ganha sentido na longa duração da espera, da leitura, da meditação, da paciência. um livro, portanto, para se demorar.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

DE NOVO FOUCAULT E A ARQUEOLOGIA DO SABER

Existe evidente confusão entre a "arqueologia" enunciada por Michael Foucault e um conceito mais geral de "estruturalismo". O próprio Foucault colabora com o imbróglio conceitual em seus primeiros livros, quando anuncia a particularidade de sua historiografia em relação as demais em voga. E se quando supostamente resolveria a questão em seu Arqueologia do Saber o autor é oblíquo e indefinido, é porque a arqueologia não é simplesmente a história das condições apriorísticas do conhecimento, conforme uma leitura estruturalista do conceito poderia formular, e ainda, como o próprio autor sugeriu, insuficientemente, no As palavras e as coisas, mas sim a ciência das redistribuições das origens e limites a qual toda e qualquer ciência está sujeita: de como o saber redistribui, ao longo da história, a matéria de seu conhecimento. 

Por isso que a arqueologia, ao longo do Arqueologia do saber, é parcamente definida; Foucault, ao contrário, age em estilo que chamarei de "cético", desfazendo racionalmente as razões das demais teorias, mas, neste ponto definitivamente menos cético, sempre seguindo na direção de um saber negativo, em espera e de difícil enunciação, já que seria um saber que se formula com ciência da própria instabilidade de seu saber; de como os saberes futuros fatalmente redistribuirão, sem respeito às demarcações do autor, o saber que supostamente se planejaria fundar. 

Por isso que a arqueologia trata inevitavelmente de uma discussão sobre o conceito de identidade, por Foucault ironicamente renunciada, desde o princípio, como sendo uma moral do estado civil. Como, então, fundar um conceito que, por princípio, recusa ser fundado? um conceito que por princípio postula a violência das derivas, dos recortes, da redistribuição? Ao fim e ao cabo, tudo que a arqueologia enuncia é a instabilidade - não a insuficiência, e talvez isso separe Foucault do ceticismo propriamente dito - de todos princípios de saber, de toda forma de ciência. 

Se hoje temos esperança de encontrar no nome próprio, na assinatura, na psicologia, no autor, na subjetividade, no tempo, na sociedade, na humanidade, ou onde lá seja o ponto de encontro de todas as linhas de fuga, Foucault deles todos desdenha, e prenuncia um saber irônico, ainda e sempre em espera, que redistribuirá a superfície de todos os textos, reorganizará as seções de todas biblioteca e reconstruirá a geografia de todos os discursos. Assim, novos objetos surgirão para o novo olhar, novas investigações farão novos sentido, e todo conhecimento se fará de novo e novo mais uma vez.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

CORREÇÃO INFINITA

 A teoria naturalista de Lamarck é precisamente a da abstração da natureza empírica em uma série abstrata constituída por meio da linguagem. Isso nos leva a uma série de problemas.

Por um lado, perde-se, em relação ao conhecimento feito pelo contato imediato com os seres, uma irrecuperável porção de verossimilhança, já que a língua elaborada, por melhor que seja, jamais será perfeitamente igual às ricas formas da natureza. Essa perda infeliz é contudo necessária, porque somente nela funda-se o conhecimento, já que este, para Lamarck, consiste na ordenação das propriedades infinitas da natureza. 

O infinito é in-ordenável: uma reta infinita pode ser cortada em infinitas porções. Somente pelo sacrifício dessa totalidade inapreensível será possível o fundamento de uma ordem verdadeiramente conhecível. Pela língua o homem ganha em comunicabilidade daquilo que, pela e na natureza mesma, infinita, é incomunicável. É necessário esse empobrecimento por meio da língua para que o mundo se torne matéria de conhecimento entre os homens.

Resta oculto, no sistema de nomes no qual se funda a história natural de Lamarck, um modelo matemático de conhecimento, que vai desde a extensão infinita da natureza até aterrissar no finito perfeito do ponto. A língua, intermediário entre a natureza e o número, por sua natureza e finalidade, infelizmente oscila entre a riqueza do real e a precisão do matemático. Primo pobre de ambos, é forma precária, que não tem nem a potência da comunicação perfeita do número, nem a realidade em si mesma do mundo. 

Se a língua ainda é instrumento necessário para o conhecimento, é porque o conhecimento é sobretudo questão de entendimento. Uma questão de comunicação; ou ainda, como colocará Foucault em As palavras e as coisas, de distribuição de analogias entre as partes da natureza, cujo modelo mais claro - como já se disse, mas não fará mal enfatizar - é a igualdade matemática. A gramática geral da época clássica, por meio do núcleo verbal responsável pela ligação entre o sujeito e predicado, buscaria estabelecer uma operação de definição do indefinido por meio da determinação precisa do nome, como se este fosse, para o gramático, o produto verbal daquilo que, para o matemático, consiste na resposta de uma equação (x = y). 

O nome, para o sistema de Lamarck, deve ser expressão tão exata quanto possível for. A sua filosofia zoológica se refere a um saber teórico capaz de compreender a extensão infinita do real, para assim melhor abstrair um sistema de nomes, cuja ordem taxionômica represente aquela infinidade indizível com maior verossimilhança.

Só que, por suas próprias limitações, por habitar o limbo entre o infinito e o finito, o nome estará sempre fadado a derrapar: se, em comparação com a natureza em si mesma, o nome sempre deixará um resto, ou ainda, sempre terá um algo de inverossímil, quando em comparação com a matemática, o nome igualmente falhará, pois é consideravelmente impreciso, incapaz de fundar analogias tão perfeitas e exatas quanto as expressas pela série abstrata da aritmética. 

A língua será fadada a ser ou deformação ou desmedida; sempre, incontestavelmente, uma entidade negativa: nem vida nem número. Se o objetivo da língua é o entendimento, a fundação de um sistema de diferenças passíveis de comunicação exata do mundo, sua contraparte, portanto, será sempre a correção infinita. Prima pobre da natureza e da matemática, de uma retira o poder de analogia, da outra, a extensão impercorrível. 

Todo sistema de conhecimento baseado na precisão da linguagem será, invariavelmente, um sistema de correções. Por conta disso que o naturalismo de Lamarck, sempre flutuante entre a artificialidade da classificação e o infinito do real, somente poderá ganhar solução pelo termo das academias de ciência, cujo objetivo será, por meio de sua soberania, controlar os desacordos inevitáveis da linguagem. Isso quer dizer que a ciência, enquanto fundamentado no nome como meio de ordenação das partes do real, está fadada a um problema gramatical que, na verdade, é de natureza política: o perpétuo inconveniente desacordo dos diferentes sistemas de línguas, os sucessivos reparos e suplementos da linguagem de um sobre o outro. Como o próprio saber jamais consegue determinar por si mesmo a ensejada língua perfeita, será necessário extinguir as diferenças indesejadas por meio da força, para assim, por meio de uma língua despótica, edificar essa utopia do conhecimento.



segunda-feira, 13 de maio de 2024

notas nada originais sobre o original

Foucault afirma que o saber consiste em referir (a) linguagem à linguagem. (As palavras e as coisas, p. 55) Saber é, precisamente, poder endereçar extratos textuais uns aos outros: redistribuir os encontros das retas paralelas e, assim, no espaço infinito em que se encontra toda escritura, diluir sentidos antigos e suplementar novos, fazer um texto falar pela boca de um e calar a de outro.

Trata-se de uma compreensão da linguagem enquanto uma espécie de exegese infinita - não uma exegese na lei, mas uma exegese da lei, já que esta está em perpétuo estado de movimento. 

O essencial é notar que, nessa exegese fundamentalmente sem lei, não obstante, vivemos e pensamos sob o patrimônio de um originário: somos condenados a ser nutridos desde um solo, a fazer viagens desde algum lugar, a responder em torno de um nome, em sua graça e tributo, e construir, pelos seus poderes, pelos seus sentidos, o monumento do saber. 

O reino despótico do original organiza a proliferação de seu comentário. Fixa seus limites, oferece suas possibilidades, anima seu movimento, sempre por meio da promessa de que seu segredo será restituído. Sob o zeloso trabalho do exegeta existe o patrono desse texto primeiro (que, não obstante, ainda resta descobrir. Em busca do segredo perdido: como sempre estivesse a vir-a-ser-revelado). 

A lei do original é o fundamento - solo, base (grund, para falar como alemão) de todo esforço hermenêutico: alicerce primeiro e necessário da construção.

A lei do original é a meta - ao mesmo tempo forma transcendente e alvo que procura a flecha - de todo esforço hermenêutico, mesmo que em seu trabalho se esbarre ou encontre sentidos segundos ou terceiros. Porque o original é verdadeira economia do sentido, a lei que dispõe ao redor do patronímico originário os textos subsidiários. 

O original controla a proliferação do sentido, recorta o espaço informe do saber dentro de sua medida, concede ao indefinido a concisão de seu nome. Tudo passa a existir em relação: endereçado ou desviado desse ponto originário. 

O original cria vizinhanças. Demarca territórios. Além de suas fronteiras é a terra do outro, do desconhecido: do que vem-a-ser conquistado, ou do que demarca a derrocada dessa império erguido ao redor do original.

Os mapas então serão redesenhados, os tesouros e honras pilhados, a história reescrita, os velhos nomes apagados, as províncias do saber distribuídas mais uma vez, e um novo original irá reinar soberano. 


sexta-feira, 5 de maio de 2023

prolegômenos a lugar nenhum: sobre foucault, descartes e a escrita como ensaio do pensar

 

  1. AINDA PROLEGÔMENOS


Me referi a este texto como “ensaio”, e o leitor de primeira viagem, se não foi avisado, faço-lhe a cortesia de explicar que é um gênero que atrasa seu objeto, que anda em zig-zag, e não em linha reta. Talvez as demasiadas curvas, ao leitor mais sensível, cause espécie de vertigem, e francamente lhe autorizo que vomite: em palavras, gritos, gestos, que cuspa de volta o alimento triturado pelo estômago, mas que aja de modo que lhe pareça mais adequado. O ensaio, afinal, em distinção do desapaixonado artigo científico, autoriza e até mesmo exige o gozo, a paixão, e por isto o seu autor corre algum perigo de que alguma sujeira nele respingue.

Agora, com os leitores incautos devidamente avisados, continuemos então o tortuoso caminho do ensaio.

Os leitores d’A Arqueologia do saber talvez lembrem da introdução do livro, em que Foucault, o autor tratará com desgosto de dois grandes campos do conhecimento, que no século XX pareciam estar em choque: a historiografia e o estruturalismo, a diacronia e a sincronia, o devir e permanência.

Para Foucault, contudo, seu intuito não era encontrar a síntese destas duas tendências, que feito alquimistas em busca da pedra filosofal, tantos intelectuais procuravam: dar história à estrutura ou dar estrutura à história. 

Como juntar sincronia à diacronia? Não era esta a pergunta que Foucault procurava responder em suas obras, mas como quem baixa os olhos, como quem se envergonha pelos pecados cometidos, confessa ao leitor: "entristece-me o fato de que eu não tenha sido capaz de evitar esses perigos”. 

Assim como os padres, não condenamos Foucault; era, afinal, a geografia em que estava posto a pensar. Os limites de seu pensar, os lugares em que seu discurso se nutriu e organizou.


***





 

Não pelo ceticismo, que ambos esgrima contra as escolas de pensamento que renavam em cada respectivo tempo; nem somente pelo aspecto ensaístico, que embora diverso, ambos compartilham. 

Evidente que surgem diferenças incontornáveis entre as duas obras. Cito uma única, na esperança dela ilustrar a presença de inúmeras: O biografismo do Discurso é justificado em seu princípio, não como exercício ocioso, de aristocrata a se divertir por sua vasta biblioteca, mas para que seu autobiografismo ganhe algum relevo, para que seja leitura séria, e não mero divertimento, espera que os episódios de sua vida, narrados com franqueza, servirão humildemente de exemplo, seja para ilustrar as virtudes, seja para demonstrar os vícios: 


não proponho êste escrito senão como uma história ou, se o preferires, como uma fábula na qual, entre outros exemplos que podem ser imitados, se encontrarão também vários outros que haverá razão em não seguir, espero que êle seja útil a alguns, sem ser nocivo a ninguém, e que todos apreciarão a minha franqueza.


Foucault, será óbvio dizer, mas tratarei de dizer, mesmo que seja óbvio, era habitante de um mundo muito diverso de Descartes, e muito mais próximo do nosso, em que a escrita antes de se referir à utilidade ou instrução, já se justifica simplesmente por sua autoria, e é lida como espelho de sua vida e formação, e no caso dos filósofos, como parte do espírito em que cuja obra foi arquitetada.

O filósofo e historiador Michel Foucault, contudo, escarneceu - pelo menos durante um bom tempo - de nossas objeções com a subjetividade e com a autoria, e em sua Arqueologia, livro que parecia ou fingia guardar a metodologia de seus pretéritos trabalhos, escreve o seguinte, em resposta a um crítico imaginário:



Você pensa que eu teria tanta dificuldade e tanto prazer em escrever, que eu me teria obstinado nisso, cabeça baixa, se não preparasse - com as mãos um pouco febris - o labirinto de me aventurar, deslocar meu propósito, abrir-lhes subterrâneos, enterrá-lo longe dele mesmo, encontrar-lhe desvios que resumem e deformam seu percurso, onde me perder e aparecer, finalmente, diante de olhos que eu não terei mais que encontrar? Vários, como eu, sem dúvida escrevem para não ter mais um rosto.Vários, como eu, sem dúvida escrevem para não ter mais um rosto. Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo: é uma moral de estado civil; ela rege nossos papéis. Que ela nos deixe livres quando se trata de escrever. 


Em Respiração Artificial, o fictício filósofo Tardewski, em suas aulas de filosofia feitas em botequins, explica ao ouvinte Emilio Renzi que o Discurso do método não narra a história de uma paixão: trata-se de da história de uma ideia. Esta é a peculiaridade que desejo acentuar entre os escritos de Descartes e Foucault: a dramatização do pensamento. 

“Estava na Alemanha, [...] e não tendo [...] por felicidade, cuidados ou paixões que me preocupassem, ficava fechado durante todo o dia em um quarto bem aquecido, onde tinha todo o vagar para ocupar-me com os meus pensamentos”, descreve Descartes, antes de principiar seu Discurso do método. O mesmo


, ensaiar, encontrar, dar forma por meio de palavras, este misterioso saber - distinto do estruturalismo, distinto da história, e que chamará enigmaticamente de arqueologia - que ele parece esboçar desde História da loucura, mas que permanece incapaz não apenas de descrever, mas também de executar com perfeição, e assim desconjurar o fantasma do estruturalismo, da historiografia das ideias, que pairava não somente sobre ele, mas cuja episteme ditava os limites e possibilidades de toda uma época pensar. 


sociedades frias e quentes: sobre as bases materiais da história

1. o que a teoria marxista-comunista deseja? pelo exame do desenvolvimento histórico, empreender uma crítica teórica das ciências, e formul...