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segunda-feira, 7 de abril de 2025

anotações ao ler althusser

p. 34: conhecimento como produção - pelo trabalho dar existência objetiva ao que existe em potência no objeto.

p. 36: Sujeito e objeto dados, portanto anteriores ao processo de conhecimento, definem já certo campo teórico fundamental - o positivismo transcendental (foucault, p. 439) delimita sujeito e objeto como entidades irredutíveis do conhecimento; o que me parece avesso à crítica kantiana: como poderia haver corpos irredutíveis se o espaço e o tempo são transcendentais, i.e., não estão dados nos limites da experiência? sujeito e objeto como a priori de toda a experiência possível é, portanto, um gênero de dado fictício, necessário talvez para que seja produzido o conhecimento, mas, talvez, apenas o conhecimento de uma dada época (aquela que foucault delimita como a do duplo empírico-transcendental do homem).

p. 36: extração da essência do real - existir em potência: o trabalho como reordenação da matéria-prima de acordo com o fim do sujeito; SÍNTESE. A verdade como ouro: o valor a ser revelado pelo trabalho de separar sua pureza elementar das partes sujas (terramerda, excremento); no nível das operações alquímicas e estomacais se produziria uma seleção do valor pela distinção entre o que cabe e o que não cabe ao sujeito.

p. 37: trabalho de eliminação; "a operação da abstração e todos os seus processos de limpeza não passam de processos de depuração e de eliminação de uma parte do real para isolar a outra. Assim sendo, não deixam qualquer vestígio na parte extraída, e todo vestígio de sua operação elimina-se com a parte do real que eles têm por fim eliminar"; a merda deve sumir pelo vaso; todo vestígio dos excrementos deve, por meio de um laborioso sistema de encanamento, ser lançado ao mar, para um território fora do território, um espaço em que a merda possa durar eternamente, como se não existisse, como se não fosse

p. 37: "A parte inessencial ocupa todo o exterior do objeto, a sua superfície visível; por outro lado, a Parte essencial ocupa a parte interior do objeto real, o seu núcleo invisível. A relação do visível com o invisível é, pois, idêntica à relação do exterior com o interior"; a luz reveladora contém partículas in-essenciais: o essencial emerge do subterrâneo sombrio e invisível, região terrosa que espera dar às luz dos olhos o saber das profundezas. INTERIOR: invisível, essencial. EXTERIOR: visível, acessório.

p. 37: necessidade da operação de extração real; althusser faz o trabalho teórico-contemplativo do des-velamento da essência se tornar obra de operário que lavra a lama do solo em busca do valor do ouro.

p. 38: concepção empírica e visão religiosa; visão pura e esquecimento do trabalho produtivo necessário para a aparição vir da escuridão para a clareza: toda a violência contra a matéria opaca que vedava a vista clara esquecida, e o signo pode enfim resplandecer transparente em seu real objetivo, como se sempre tivesse sido.

p. 38: O que figura o conhecimento, isto é, essa operação muito particular que se exerce a propósito do objeto real a conhecer, e que nada é, q ue, m uito pelo contrário, acrescenta ao objeto real existente uma nova existência, justamente a existência de seu conhecimento (por exemplo, no mínimo o discurso conceptual verbal ou escrito que enuncia esse conhecimento na forma de uma mensagem) - A COISA E O SIGNO

P. 39: investimento e especulação do conhecimento: as amarras silenciosas entre teoria do conhecimento e teoria do valor: como a teoria investe os objetos do conhecimento com um quantum alheio à matéria empírica, e que a ela no entanto eleva? a separação entre essência e excrecência não é um trabalho de purificação da terra suja em ouro valioso? ir do não-entendimento e confusão não é um procedimento economicamente rentável, que justificam os salários que pagamos a cientistas e filósofos? ou, não haveria também um valor no inverso: em fazer do claro ir ao escuro, para assim LUCRAR com o seu sucessivo clareamento (e também com seu desaparecimento)? a dialética talvez desvende um mecanismo econômico, um procedimento de mais-valor em que o claro e o escuro podem se seguir infinitamente, até alturas cada vez mais elevadas: o conhecimento produzido por esse trabalho incansável e custoso é auto-jusficável, é uma apologia de si mesmo: pois é de muita mais valia que o antigo...

p. 43: matéria-prima (objeto) + meios de produção (sujeito) [historicamente distribuídos/organizados]; sócio-sintese: a forma com que os dados empíricos (matéria-prima) são combinados no espaço-tempo para montar representações. o trabalho do conceito é um trabalho sócio-sintético e não uma sujeito-sintese (o gênio); para além de potenciais "jogos de palavras" o conceito existe como um potencial epistemológico espaço-temporalmente delimitado: i.e., o que é possível de se pensar em determinada época. 

p. 44: há sempre trabalho primitivo conceitual sobre os objetos

p. 46: a lógica das condições da produção dos conhecimentos: a necessidade do ser existir como evento, acontecimento.

p. 47: ideologia como acúmulo primitivo e não-teleológico da ciência. ciência como ruptura da conceptualidade ideológica. instauração de uma nova experiência no seio dos mesmos dados objetivos. novo critério de valor, nova distribuição da matéria: o que é ouro e o que é merda muda historicamente.

p. 49: "a distinção entre o objeto real e o objeto do conhecimento acarreta o desaparecimento do mito ideológico (empirista ou idealista) da correspondência bi unívoca entre os termos das duas ordens [ideal e empírica]"; KANT.

p. 55: as respostas não nascem dos problemas: os problemas que nascem para justificar respostas.

p. 57: o não-entendimento quer entender o que o entendemento esconde

sexta-feira, 12 de julho de 2024

o filósofo de husserl

o filósofo, segundo husserl, é apaixonado por um conhecimento que transcende a práxis da vida natural. é, para todos os efeitos, um espectador desinteressado da vida, um contemplador do mundo, alheio aos problemas e alegrias mundanas, porque de certa forma, embora dependente do mundo, o filósofo não participa, ou ainda, se esforça para não participar do mundo. o filósofo husserliano se caracteriza pela força ascética, pelo movimento de distanciamento que funda o ato da especulação filosófica, transcendente a todas atividades práticas. sua posição é um contínuo colocar-se para-fora, ou ainda, para-cima, para-além, das condições da vida. o filósofo deve mover-se para além da vida enquanto finitude, dirigir-se para fora das determinações de produção (o filósofo, para todos efeitos, não trabalha), das necessidade de reprodução (qual é a relação da filosofia com a sexualidade? com a família? não foi kant, o maior de todos filósofos, que morreu virgem, intocado?), e mesmo do imperativo da comunicação (a incompreensibilidade filosófica funda-se na necessidade de escapar da linguagem, da finitude de seu legislar, e esculpir um idioma próprio, críptico, capaz de nomear e chamar tudo aquilo que as palavras vulgares - construídas para outro mundo, para a vida ordinária, humana - não pode tocar). o filósofo de husserl quer estar não só além do bem e do mal, em sua époche cética, mas estar além do humano, além das condições que determinam o humano transcendentalmente como ser finito: o trabalho, a biologia, a linguagem. somente impondo a si mesmo essa condição sobre-humana que será capaz, enfim, de filosofar e conceber tudo aquilo que o viver-como-humano obscurece sobre o mundo em que o próprio humano vive. 

Neste surpreendente contraste surge a diferença entre a representação do mundo e o mundo real e a nova pergunta pela verdade; não pela verdade cotidiana, vinculada a tradição, mas pela verdade unitária, universalmente válida para todos aqueles que não mais estejam ofuscados pela tradição, uma verdade em si. É próprio, pois, da atitude teórica do fi1ósofo a decisão constante e predeterminada de consagrar toda a sua vida futura a tarefa da teoria, a dar a sua vida um caráter universal, e a construir in infinitum conhecimento teórico sobre conhecimento teórico

(HUSSERL, E. A crise da humanidade europeia e a Filosofia, p. 71).

sábado, 15 de junho de 2024

depois de kant: positivismo e metafísica no espaço transcendental

na história das ciências humanas escrita por foucault, a filosofia de kant adquire a importância de um singular acontecimento. depois de sua célebre crítica à metafísica, foucault indicará duas tendências opostas e conflitantes que, não obstante, estão erguidas sobre o mesmo terreno movediço deixado pela crise da representação clássica. 

tornada impossível a pretérita correspondência entre as palavras e as coisas, com a filosofia avançando na direção das relações transcendentais entre as representações, dos fundamentos subjacente a toda experiência, surgem duas escolas cuja guerra orientou a filosofia do XIX: por um lado, o positivismo, que declarado proibido o conhecimento das essências, despreza a metafísica como incognoscível, e se decide a estudar os fenômenos empíricos. por outro lado, nesse espaço criado pelo objeto transcendental, surgem as metafísicas especulativas, que procuram ultrapassar a penúria empírica do positivismo por acenos na direção da intuição, do imaginário. 

destas duas escolas pós-kantianas, os positivistas são assemelhados aos físicos, aos matemáticos, e por meio da linguagem métrica, da imaginação mecânica, procuram restituir aquela ordem perdida depois da crítica. os metafísicos, certamente mais próximo dos místicos, dos artistas (em sentido romântico, claro), ao passo que pareçam um tanto quanto pré-criticos em seu matafisicismo, em seus acenos na direção das essências, somente podem se constituir a partir da constatação da separação do ser e do fenômeno, da coisa e da representação, nesse vácuo que torna a ontologia um processo mais misterioso e enigmático.

sociedades frias e quentes: sobre as bases materiais da história

1. o que a teoria marxista-comunista deseja? pelo exame do desenvolvimento histórico, empreender uma crítica teórica das ciências, e formul...