quinta-feira, 29 de junho de 2023

decadência de GILBERTO e decadência do açúcar

 Muito se fala sobre o aspecto decadente que o conjunto da obra de Gilberto revela, quando enfileirada em ordem cronológica. A associação imediata é entre a degradação intelectual e moral, i.e., seu relacionamento com figuras desprezíveis, e a entrega de sua obra aos caprichos ideológicos das elites. Há, também, as acusações mais diretas contra sua subjetividade, que muitas vezes se associam à primeira, e retratam Gilberto como vaidoso e avaro de glórias. A qualidade da obra, portanto, é traída pela sua paixão doentia por cobiça. 

Dentro dos comentários mais comprometidos diretamente com as ciências sociais, há o ensaio de Carlos Guilherme Mota, que estabelece relação direta entre a produção de Gilberto com a aristocracia açucareira de que era herdeiro: “o ensaísmo não surge apenas como terreno ideal, mas como discurso possível”. Difíceis palavras mais precisas do que essas, especialmente se mantivermos em vista o que o autor se refere como “o ajustamento desses estamentos a uma sociedade de classes em formação”. 

Não foi afinal a formação de Gilberto Freyre, assim como outros tantos intelectuais de sua geração, cultivados desde a tenra infância, no jeito que aprendia a pedir a criada a buscar o brinquedo? Foi no colégio também, por exemplo, que foi educado não só em latim e oratória, mas em práticas mais sujas, licenciosas, que não falaria em voz alta no jantar com a família? Gilberto frequentou espaços e se formou por prática e valores que, se não foram simplesmente apagados pela industrialização do país e a formação gradual de uma sociedade de classes, teve seus meios de cultivos desfeitos. 

A progressiva decadência do latifúndio açucareiro, meio de produção sob o qual o próprio Gilberto fundara a sociedade patriarcal, era não somente material como também espiritual: morria verdadeiramente um mundo, ou ainda, um meio, em que se produziam não somente objetos materiais, demarcados como característicos dessa cultura, como por exemplo, a antiga arquitetura das casas-grandes, que foram se europeizado e se assobradando, mas os próprios valores, e mesmo a própria gente, que por meio deles era formada. 


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