quarta-feira, 18 de outubro de 2023

escrevo memórias quando tenho recaídas.

cheirei quetamina.
como estará elena? é ainda a mulher que amo, a mulher com quem me imagino vivo, acordando cedo, sentado na mesa, tendo filho
quando comecei o neorromantismo andávamos brigados,
sem saber, ela é mãe do neorromantismo,
desse filho abortado.
a gente conversava sobre família, filhos, ser pais, os gatos e cachorros
elena tinha galinhas no quintal quando criança e um cachorro do vizinho entrou e matou.
tudo começou depois da pandemia.
meu pai havia guardado dinheiro e me convidou para ir a disney
meu feito heróico, eu me rendi e disse sim
perante o juri lisonjeado pelo insulto
aquela viagem foi infernal
todos crimes potenciais em minha imaginação
o carnaval foi onde me perdi, fiquei viciado em cocaína
mas isso foi depois
escrevo cada linha com medo de morrer
não medo de perder minha vida
mas porque morrer é explodir uma bomba atômica
eu sou uma bomba atômica que quando morrer vai matar muita gente
não quero meus resquícios radioativos nojentos tocando gente boa
eu nem quero mais poesia
eu nem quero mais humanidade
eu reencontreei dentro de mim o desejo de morte
que a psiquiatria tentava esconder 
nossa e com sucesso
eu tinha esquecido dele
a psiquiatria acha que é a droga que cria isso 
mas esse desejo existe em mim
e encontrá-lo é como estar em família
nina, pensei agora em te ler,
porque eu queria morrer,
e digo com uma paz,
será que quando eu ler terei?
é tão fácil dar um tiro na cabeça.
o problema é que tenho muito amor.
o amor parece uma dívida. 
não posso morrer assim por minha mãe, vó, irmão, ex
lévi-strauss, faça as estruturas do parentescos
analista...
van gogh suicidado pela sociedade eu não quero defender tese 

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