sábado, 1 de junho de 2024

A INTRODUÇÃO DO SABER

1.

Escrever sobre um livro, ou melhor, simplesmente lê-lo, pensá-lo, se entregar distraidamente a qualquer uma destas atividade banais cuja aparente ausência de movimento sugere antes o estado de repouso e de lazer do que o ávido trabalho, é e talvez seguirá a ser, para toda uma nova geração destinada pelos aparelhos acadêmicos ao trabalho de escrever, ler e pensar, um hábito estranho, muitas vezes exercido à contragosto. É estranho para uma criança de classe média, descendentes talvez de escravos ou de imigrantes pobres, ou fruto de uma linhagem de trabalhadores liberais, saber manejar um livro. Sua atenção foi condicionada por desenhos animados, fóruns na internet, filmes hollywoodianos, relacionamentos amorosos, vídeo games e, em níveis convencionalmente intelectuais, provas, aulas, vestibulares, exercícios que talvez lhe tornem adequado aos problemas da engenharia e da computação rudimentar, do exercício de escritório, mas que, diante deste artefato estranho, o livro, sempre reconhece certa estranheza.

2.

Mais cedo, uma amiga que conheço faz pouco tempo, e por quem rapidamente cultivei um perigoso erotismo, disse que sua busca por conhecimento é como a tentativa de reencontrar o falo para sempre ausente. 

O erotismo se torna perigoso e verdadeiro quando me sinto assim, aberto, em carne viva aos pensamentos e línguas estrangeiros, que não fazem parte de mim. Por meio de uma pessoa que conheço a alguns dias passo já a pensar minha própria vida, de suas palavras faço cadinho para meu pensamento.

3.

Para mim os livros, os saberes, nada disso me parece natural, e mesmo depois de quase dez anos de estudo, não me sinto introduzido a esse mundo, pelo menos não da forma que um herdeiro legítimo pelo seu pai foi introduzido. 

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