quarta-feira, 10 de julho de 2024

outro realista

a raiz de muita estupidez remete ao conceito darwinista-liberal de sobrevivência do mais forte. uma de suas formulações está na concepção da virtude enquanto adaptação psicológica à realidade dos fatos. os fracos, diria esse pequeno darwinista da subjetividade, são aqueles que falsificam o real, elaboram sonhos de fuga, se entregam às fantasias desregradas, ao sexo, ao vício, aos jogos, e tudo aquilo que lhe dá prazer e que ocupa o tempo que, em sua imaginação que não ultrapassa a profundidade de um pires, o homem realista deveria deveria fazer com comedimento, com moderação , com cálculo, com economia. o pobre miserável vive em greve de fome, e quando come, é aos alimentos mais pobres. seu paladar é de gente que prefere hambúrguer de fast food a um bom jantar. para esse gênero de psicólogo, que se põe na a ponta dos pés para se passar gigante, essa é a única forma de nutrição. o pobre ignorante, que desdenha daquilo que não consegue ter. a ascese profunda é seu único cardápio. assim foi esse pobrezinho desnutrido criado. vive em greve de fome, talvez, como o personagem de kafka, por nunca ter descoberto nenhum alimento que lhe agradasse. entregue à baixeza da realidade, aprendeu a se deliciar com o gostinho de seu estômago a roncar, com a dor pela gastrite que sobe pela sua garganta. enquanto subexiste com o fruto do trabalho burguês e o sexo católico para a reprodução, olha de canto de olho esses gulosos e embriagados incompreensíveis, que vivem muito e morrem cedo, que não se contentam com a magra carne da realidade, seca a saliva que escorre da boca e diz para esposa (que detesta) que precisa ir ao banheiro realizar suas necessidades.

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