domingo, 1 de dezembro de 2024

SUPER-SEMIOSE

     Algumas décadas atrás, em uma época que talvez ainda seja a nossa, Jean Baudrillard expressava aquele mal estar civilizatório diante dos rumos da modernização. Especialmente, atormentava ao filósofo francês aquilo que poderíamos descrever como os descaminhos do espírito e da civilização por meio da industrialização da cultura, cujas máquinas cada vez mais avançadas fabricavam relatos e representações cada vez mais velozmente.

   A elevada produção de informações, para Baudrillard, havia produzido essa espécie de patologia super-semiose, que agora as sociedades industrias padeciam, em que a abundância e contrariedade de sentidos não parecia simplesmente levar os fundamentos do espírito iluminista à bancarrota intelectual. A aparição da massa, enquanto objeto e positividade de uma ciência, para Baudrillard era expressão de como a humanidade, consumidora absoluta, renunciava abertamente a conceitos como sujeitos e sentidos, que não pareciam guardar nenhum sentido com a sua experiência dos espetáculos midiáticos:

 

Os media carregam consigo o sentido e o contra-sentido, manipulam em todos os sentidos ao mesmo tempo, nada pode controlar este processo, veiculam a simulação interna ao sistema e a simulação destruidora do sistema [...] Não há alternativa, não há resolução lógica. Apenas uma exacerbação lógica e uma resolução catastrófica.[1]

 Se as massas são aquelas que consomem acriticamente, esse superconsumo no entanto somente se faz mediante a destruição do sentido: a “recusa de sentido” e a “recusa da palavra”, que caracterizariam as passividade das massas, na verdade, seriam então respostas ativas, uma produção daquela dimensão que parece a mais improdutiva das sociedades modernas.



[1] BAUDRILLARD, p. 110.

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