1.
Ter caganeira e deslumbrar a merda gradualmente se recompor da ação perversa das bactérias. Primeiro a liquifação total, a bosta que se mistura como água derramada na água. Como se encenasse a aparição da vida, forma-se então as primeiras partículas, que boiam poeticamente na água translucida do toalete. Depois alongam-se como girinos, e criam patas para melhor poder nadar até o mar. Olho o vaso uma vez mais. e assisto com orgulho paterno a minha minha, dura e bela que nem diamante. dar descarga é dizer adeus a um filho crescido.
2.
Dez e dezesseis, leio um take de Carlos Góes sobre o caso Neymar: "não me importa a opinião política de um artista!, diz esse célebre calculador de gráficos e receitas.
Exclamo em voz alta:
- O esteticismo agora chegou nos economistas!
(no caso, um esteticismo improvável, que na verdade mesmo é só um gênero de tecnofilia).
o meu gato riu e respondeu:
- Ainda se impressiona com esses economistas que não entendem nada de ciências sociais?
- Dadá, sei que um economista pensa tanto quanto uma calculadora japonesa super moderna. Ainda assim, me espanto.
- A estupidez humana não me espanta mais, retrucou, com ar entediado.
- Será que existe alguma solução, Dadá? Será que esses economistas conseguem desfazer o mal que os bancos de dados e os gráficos e as fórmulas fizeram em sua imaginação e sensibilidade?
- Isso porque você nem tocou na ideologia liberal, meu caro humano...
E ficamos em silêncio, reflexivos, melancólicos, e até mesmo assustados, diante da perspectiva de um futuro orientado por tal gênero de mestres.
Foi então Dadá quem interrompeu:
- Minha caixa tá cheia de cocô, humano.
E fui até a cozinha limpá-la.
3.
Termina o comercial e recomeça o Domingão do Hulk. Musiquinhas de vídeo game de 64 bits, e Hulk está no palco falando no microfone:
- Será que a dona Maricota vai ganhar o prêmio de cem mil reais? Gente, será que ela vai conseguir? Diretamente do palco do Domingão, dona Maricota, vai lá, é com a senhora!
E a velha tem que derrotar o ex-jogador Ruy Cabeção em um gol a gol. Se vencer leva o prêmio de cem mil, que usaria para reformar a casa e dar presentes ao netinho gordinho.
- Pronta, dona Maricota?
E dona Maricota olhou para a câmera, com aquele olhar sério, de quem está preparada para dar a vida.
A avó se ajoelha junto do neto e rezam o pai nosso.
-Santificado seja o vosso nome, venha nós o vosso reino...
Quando de súbito subiu um cheiro de azedo.
- Assim na terra como no céu, o pão nosso de cada dia nos dai hoje e... meu Deus do céu, Bento, cagou nas calças de novo? Na hora da reza?
- Vovó, culpa sua!
- Eu? Por que eu?
- Você reza devagar! Eu queria fazer cocô!
- E por isso que cagou nas calças?
- Presta atenção em mim, vovó. Ouve o que eu falo.
Essas cenas se passaram na cabeça de dona Maricota enquanto partia na direção de Ruy Cabeção, a bola dominada na direita.
O ex-lateral do Fluminense rouba a bola da senhora e chuta em direção do gol. Dona maricota perde uma vida, restam duas. Vai de novo para cima de Ruy, perde a bola e toma outro gol. Tem apenas mais uma vida. Mais uma vez, pra cima dele e tenta um drible, é agora ou nunca.
Cai e leva a mão ao joelho. O apresentador:
- Que pena, dona Maricota não conseguiu! Agora, a banda Fundo de Quintal.
E entra a Fundo de Quintal, agitando a rapaziada da plateia.
4.
Depois de uma longa noite de sexo anal, ela cagou um enorme tolete. Ao dar descarga, não compreendeu o porquê de tanta emoção. Passou a mão no rosto, limpando os olhos marejados. Enquanto a bosta girava, prestes a desaparecer para sempre, sussurrou: adeus, meu primogênito.
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