quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

dia 2/dia 3 de sobriedade.

os dias estão longos e duram mais do que 24h. suas fronteiras começam a perder sentido quando você passa a madrugada em claro, tem uma crise de choro às 6 da manhã pensando que ela te abandonou, e terei que interromper a narração cronológica para dizer que entre as 6 e as 7 me lembrei daquele filme orfeu negro e escutei a felicidade olhando a manhã. isso fez que meu corpo maquinasse o desejo de morte de alguma forma que ainda não compreendi. me levantei, baixei uma playlist aleatória (meu celular está sem internet desde que atirei ele ao chão durante minha crise psicótica ) e corri mais de 4km em 20m na esteira da academia. correr até me extenuar, apagar toda aquela energia suicida que me manteve desperto ao longo da madrugada. mesmo assim, quando chego em casa, ainda demoro duas horas para dormir.


acordo e como o resto do macarrão feito no dia primeiro. macarrão com espinafre e creme de leite. o gosto me lembra ela. às 16 havia marcado com trindade dele vir aqui em casa para tocarmos e conversarmos. ele se desculpa e diz que chegará só pelas oito. fico tocando guitarra sozinho por algum tempo, brincando em fazer dela instrumento percussivo. em algum momento cansado pego o celular e vejo que minha bolsa de doutorado irá aumentar em quase mil reais e sinto uma felicidade que mistira alívio com certo descaso: sei que mil reais a mais por mês é excelente mas que minha neurose não se condensa numa cifra, num problema de quantidade, mas de qualidade. 


trindade chega e lhe proponho uma traição: sair para beber duas unidades de cerveja. cerveja é droga?, despisto a mim mesmo e digo que não. as duas unidades de cerveja sofreram do mesmo problema dos pães de jesus e se multiplicaram: na conta ficou anotado que tomamos seis. 


de início trindade me tratou como psicanalista e pacientemente ouvi suas mazelas. ânsia sadomasoquista de destilá-la em palavras (mais uma vez, imagino). tudo bem, escuto com paciência, sou tão neurótico quanto ele. depois passamos da pulsões sadomasoquistas para as discussões fantasiosas acerca de música e arte, e aqui o tom se torna de diálogo, mais animado e alegre, como se reencontrassemos alguma vida dentro de corpos necrobiologicos. reforçamos o desejo de voltarmos a fazer música juntos, como já fizemos no passado. mantenho grande parte das minhas suspeitas sobre essa possibilidade em silêncio, revelando meu ceticismo na exigência de encontrarmos um procedimento ou metodologia que faça o trabalho funcionar.


em casa, passo a madrugada meio bêbado conversando com abortinho. marcamos de nos conhecer no dia seguinte. o dia quatro. agora, enquanto escrevo, o metrô corre na direção da cinelândia, para o mam, onde irei encontrar ela, ele.

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