sábado, 8 de abril de 2023

escória genética, ao fracasso pré-determinada, teu corpo cumprirá sem consciência o destino projetado pelos deuses arquitetos da terra, e previsto desde a repartição unicelular dos moneras. seja os dejetos que escorrem de teu intestino, seja os teus pensamentos mais elevados, tudo padece do mesmo princípio, a morte, a tristeza, a doença.

no inferno, os diabos são minha única companhia. embora tentem dissimular amizade, e não parem de falar a um instante, raramente conversam. mesmo que suas palavras possuam destinatário, o gênero que encenam raramente é o diálogo. ficam horas, um olhando para o outro, em intermináveis e simultâneos monólogos. pelo que pude observar, também apreciam as boas piadas, e de vez em quando dão risinhos ao perceber que o outro fez uma boa tirada. eu, entediada e alheia a tudo, anoto as melhores palavras que o órgão dos sentidos registra em minha cabeça.

coloque em meu chá, ela pediu, umas sessenta gotas de rivotril.
depois, comigo adormecida, lubrifique seu pau com óleo de cozinha,
e sem se incomodar com o inconveniente de haver um resto no corpo,
use desregradamente minha vagina, como se fosse qualquer coisa
que não mulher, mas reles mobília, triste, carcomida e sem vida.

com uma faca de cozinha,
arrancaria primeiro a pele da barriguinha.
depois, com cuidado, abriria um formoso buraco,
e com o auxílio de um garfo de churrasco,
retiraria de lá os órgãos digestivos, estômago, intestino grosso, intestino delgado. que lindo!, exclamaria para meu marido, os órgãos de nosso amado filho! e fritaria eles com cebola e alho, e com um canudinho beberíamos o sangue.

vou ser breve, pois não quero ocupar o ouvido do santo padre com minhas confissões de pecadora. transei por três dias consecutivos com um homem. no primeiro dia, estava menstruada, e permiti que gozasse dentro. transamos mais algumas vezes nos dois dias seguintes, ele voltou a gozar dentro mais umas duas ou três vezes. agora, descasco batatas e me atormento, aflita, imaginando dentro de mim conter o germe de uma vida, e morrendo de medo de ser mãe, de dar luz a uma maldita criatura. prefiro contrair aids ou qualquer doença do que dar vida a uma criatura. estamos eu e ele muito deprimidos e viciados em drogas. ao meu lado, ele dorme tranquilo, ninado por um banquete de comprimidos. como poderemos criar uma família desse jeito? sei que pequei, e que por isso mereço a punição prescrita pela sagrada lei. sei que a carne para todo sempre padecerá, até que os vermes trabalhem e a carne deixe de ser carne. e deus, somente ele, que poderá absolver minha alma da danação.

realizarei meu destino de besta rudimentar, e no desavisado passante cravar-ei minhas presas de monstro. nos intervalos que houver entre o eufórico coito e os passeios de mãos dadas nas tardes de domingo, sugar-ei seu sangue com gosto, e devagar despedaçarei sua alma, afogada em uma poça de lágrimas, morrerá sozinha, a pobre vítima.




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