acordo em meio à madrugada, o coração dividido entre tua dolorosa memória e a vontade de cheirar uma cartela inteira de ritalina. em meu corpo a musa entra pelo nariz, e calíope, puta ordinária de meia arrastão rasgada, por seis ou sete horas de insônia encantada, me enraba com um falo rosa de plástico de módico tamanho, e no êxtase irregular dos versos sem métrica e rima, minha razão febril não pensa, escreve, e meu coração arrítmico nem lembra mais do motivo que me fez triturar o primeiro comprimido, e estender a breve madrugada na manhã infinita de minha alma. que linda luz no fim do túnel, calíope vagabunda a pedir tapas na cara até o sol nascer quadrado.
não desejo proliferar nem a morte e a doença, mas deserdado pelos meus pais, a única família que me resta é a do vírus. patinho feio, chocaram o ovo errado: a pomba branca nasceu serpente. nada posso fazer: é de minha natureza. tudo que sei é morder e matar: meu coração são presas, e os parceiros que atraio são com o intuito inconsciente de matar. pois assim, parece, que fui fadado a amar. vampiro miserável que não merece nada além do que uma estaca no coração negro, me descreveu atentamente uma psicanalista, e recomendou para sua cliente, com sinceridade, com preocupação, e como quem aconselha uma filha ou irmã mais nova a quem deseja livrar de um mau presságio, se torna profeta do mundo natural: afasta-se do amor doentio, epidêmico, desse monstro vampírico. e eu que amo ela, corro para longe da luz, me fecho nas trevas de meu caixão, me entupo de benzodiazepínicos, cheiro cocaína, escrevo versos peçonhentos, suicidas, de quem reconhece que por sua viral natureza q sua única boa companhia não é exatamente orgânica, mas retificada como o pó que logo hei de me fundir: tudo que quero é a calma silenciosa de uma pedra, tudo que ambiciono é a geografia topográfica de euclides da cunha. e pelo amor do pó e das reações químicas, terminar a alquimia do ser ao não-ser: de um momento para o outro, simplesmente cessar, como o rio que seca, como a chama que apaga.
inesperada senta vênus na mesa aqui de frente, e tudo que desejo é que fosse meu pau essa cadeira. amor mais puro, ilibado, em nenhum lugar ela encontraria. amor quase infantil o meu: inocente, de pau duro e apaixonado. leve de uma vez, deusa minha, o meu único tributo, tudo aquilo que possuo, o meu coração arrítmíco de viciado que hoje a tarde parecia que ia parar depois de eu cheirar a segunda carreira de cocaína.
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