segunda-feira, 1 de maio de 2023

minha formação, meu método de trabalho: notas apressadas

quando graduando comecei a ler baudrillard. eu não entendia nada mas gostava de ler.

apareceu a literarura. li auerbach, bakhtin, lukács. um dia me avisaram: muito bons estes autores, mas se você quiser estudar a literatura do século XIX.

era verdade, mas como comecei a escrever, edecidi parar de estudar literatura. ou melhor, dei preferência a ler os escritores, e pensar a partir deles.

saí da literatura para estudar historiografia. não foi uma transformação tão impactante, porque estudo a história muito a partir da linguagem. sou um pouco, ao meu jeito, filólogo. se a história exige rigor, o meu rigor é estar sempre perto do texto.

gostei muito de ler barthes, de sua ânsia classificatória, de sua percepção obssessiva de que tudo é um sistema de classificação, um agrupamento de significantes, árvores de palavras cujos ramos estruturam línguas.

gostei de ler foucault, se tivesse que seguir escola seria a dele. a verdade como poder, arma de gierra. a sucessão e derrocada de morais, a história violenta dessas mutilações. comecei a ver a história das línguas como assassinatos e criações. as línguas se perdem e alguma possibilidade de pensamento se perde com elas, se as línguas são o limte, condição e possibilidade de pensar.

não acredito mais no pensar livre, embora acredite na plasticidade do pensar. pelas frestas. talvez possa atribuir isso a derrida, mas confesso que li muito pouco.

a leitura de lévi-straus me impactou quando por ele descobri que a língua é diversa porque é resultado de uma atenção diversa que cada cultura dirige às coisas. o conhecimento está antes submetido ao desejo, ao amor de conhecer, do que a um exame racional do mundo.

uma vez conheci uma pessoa mais jovem que me recriminou por tornar-me racionalista. é verdade, cultivo uma linguahem secular, ocidental. não tenho exatamente planos para desenvolver novas linguagens. acredito que a língua é antes de mais nada comunidade. não tenho mais esperança de fazer vanguarda. me satisfaço em pensar a partir dos limites que me foram entregues antes mesmo que eu tivesse escolha. a experiência esquizofrênica de findir a linguagem até aceito, mas com cuidado, porque é destrutiva. gosto de explodir, mas a idade tem mostrado a importância de também cultivar a rotina.

tenho carinho por estes limites. e por isso dou nomes aqueles que me ajudam a pensar. são leituras que me deram certa possibilidade de conhecer, e ainda estou interessado em conhecimento. minha profissão, afinal, é de historiador, e ainda tenho vínculos com a produção do conhecimento.

sou também artista, e às vezes romântico, e quero inventar tudo do zero. outras vezes me satisfaço em mover uma pedrinha ou outra da linguagem que me foi entregue. já é tão difícil aprendê-la. estou há quase um ano tentando aprender a escrever novelas, e custa sair.

as pessoas hoje em dia atribuem poderes mágicos as palavras, desenhos, signos, o que seja. nada mais mágico que a linguagem ordinária, que faz a pessoa esquecer que está sendo afetada. os bruxos mais perigosos, os sofistas, sabiam disso, e edificadam cuidadosamente a retórica. se acredito em mágica, é porquea ceedito em rerórica, em como a língua se bem empregada pode despertar efeitos eróticos dentro da discussão mais racional.

acredito contudo que estudar história seja uma forma de possessão pelo objeto, pelo morto. já falei outras vezes que historiografia pra mim é psicografar os mortos. tenho crenças sobrenaturais no meu ofício, o que talvez me torne menos racionalista, mas a razão ocidenral já está em desfação faz um tempo. foi de baudrillard que aprendi que sou também objeto do de conhecimento: então leio gilberto freyre, sergio buarque, e me permito ser objeto deles, deixo suas palavras entrarem em mim, mas como vingança, traio elas e penso por meio delas.

não tenho portanto pretensões de reinventar a língua, acho que seria um exercício estéril que o modernismo literário mostrou caduco, ou pelo menos restrito a uma comunidade de ociosos decidradores.

sou fiel ao materialismo histórico: quase religiosamente. inventar uma linguagem é muito pouco se não conseguimos comunicar nada. se os signos não são do mundo, são somente esteticismo. vaidade de não participar da linguagem. torre de marfim. querer estar fora da história. e bom, escrevo de dentro dela. sei a sociologia que me determina, e que modicamente tento ultrapassar.

mergulho na linguagem. sou atento a ela. leio alvares de azevedo e tiro o pó de seu ceticsmo e gozo melancólico entre putas e virgens. gosto de ler a utopia de tbomas morus e reimaginar nosso mundo s partir do dele. valorizo muito as línguas estranhas, e diria que meu encanto com os estudos da linguagem passa por tentar compreender algo desta estranheza. porque o estranho me afeta, me cultiva, e eu respondo de volta, faço essa língua estranha pensar meus problemas e obcessões.

tenho me interessado cada vez mais pela escritura do não-verbal. essa tentativa dos últimos séculos de preservar tudo por meio da escrita. tem sido um convite para ver e pensar o mundo para além ds linguistica. é lromissor.

mas sou satisfeito com a filologia sócio-histórica que tenho esboçaso. estudos rigorosamente presos ao texto, mas que a partir deles procuro imaginar algo mais. o texto pra mim é método, indício. mais que isso, é uma prótese ao pensamento. um implante biológico.

não planejo mais grandes voos, mas simplesmente dizer algo que possa ser lido e reconhecido como um bom trabalho. esse exercício de por os pés no chão tem me feito trsbalhar com mais afinco, e com mais alegria

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