sexta-feira, 14 de julho de 2023

atrofiando

não desejo proliferar nem a morte e nem a doença, mas por minhas deficiências congênitas deserdado pelos meus pais, a única família que me resta é a das criaturas virulentas. patinho feio, mas da estirpe dos verdadeiros amaldiçoados: chocaram o ovo errado, e a pomba branca nasceu serpente. nada posso fazer, concluo sem muito pesar, é de minha monstruosa natureza. tudo que sei é morder e matar, meu coração são presas, e os parceiros que atraio por amor ponho para dormir com o intuito inconsciente de matar. assim fui fadado a amar. "vampiro miserável que não merece nada além do que uma estaca no coração das trevas", me descreveu atentamente uma psicanalista, e recomendou para sua cliente, com sinceridade, com preocupação, como quem aconselha uma filha ou irmã, a quem deseja livrar de um mau presságio: "afasta-se do amor doentio, epidêmico, desse monstro vampírico". e eu que amo ela, corro para longe da luz, me fecho nas trevas de meu caixão, me entupo de benzodiazepínicos, cheiro cocaína, escrevo versos peçonhentos, suicidas, ridículos em sua sinceridade de imagens óbvias, de quem reconhece por natureza o mal. a boa companhia que me destina não deve ser orgânica, mas como o pó que logo hei de me fundir; e tudo que quero é a calma silenciosa de uma pedra, e tudo que ambiciono é a poesia topográfica de euclides da cunha. e pelo amor do pó e das reações químicas, tratar de terminar a alquimia do ser ao não-ser; e de um momento para o outro, simplesmente cessar, como o rio que seca, como a chama que apaga.

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