quinta-feira, 25 de julho de 2024

definição da razão sob o iluminismo: reflexão sobre as condições de experiência

dilthey formulou, sob o nome de "experiência da vida" ("essência da filosofia", p. 76),  um conceito de esclarecimento progressivo do desejo ao longo do tempo: uma razão crítica que, na capacidade de objetivar o mundo - e a própria vida - no curso de sua duração, é capaz assim de atingir uma plenitude e satisfação superior ao da mente inocente, que simplesmente vive, sem reflexão do como, porque e para quê. 

a poesia e a história se tornam suplementos para a experiência, formulações capazes de auxiliar a tomada de consciência do valor universalmente válido, ainda que validado universalmente dentro da perspectiva do valor particular em que se dá a vivência. 

existe uma adequação da sabedoria transcendental ao fluxo imanente da vida, e também uma separação entre aquilo que seria a sensação, a (in)consciência em estado irrefletido, pragmático e mundano, e uma consciência superior, contemplativa, característica da etapa racional verdadeira: aquela capaz de julgar reflexivamente sobre a própria experiência ainda durante o curso desta. 

nesse esquema teleológico de esclarecimento do desejo, em que o progresso do tempo representa o progresso do julgamento e compreensão, e assim, da felicidade e saciedade, da sabedoria do desejo, de caracteriza uma filosofia oposta a de freud. talvez seja essa uma diferença significativa entre a hermenêutica posta pela psicanálise e uma como a de dilthey: porque a psicanálise de freud propõe o inconsciente como uma espécie de aparelho que sempre desviaria os progressos do esclarecimento. se em dilthey há um desenvolvimento da razão sobre o desejo, um domínio crítico da consciência sobre o curso errático da experiência, freud irá inverter os termos: o desejo irá permanentemente errar a razão, e o curso da experiência irá repetidamente contrariar a crítica que supostamente se proclama dirigente desse processo. 

a conclusão mais importante dessa breve comparação é uma descrição clara do que afinal significa "razão" para um iluminista como dilthey: um saber universalmente válido capaz de julgar e refletir - desde um ponto de vista transcendental - as experiências históricas e particulares da vida. se por um lado dilthey formula a multiplicidade de experiências, sua hermenêutica se descreve pela razão - a própria filosofia - capaz de avaliá-las desde esse ponto de vista da universalidade. 

isso quer dizer que a verdade em dilthey é menos metafísica do que antropológica: diz sobre a vida, está dado no nível dos valores de cada tempo e indivíduo, legisla sobre a felicidade e seu bem-viver, e enfim: é uma verdade que poderíamos chamar de ética. 

a razão universal diz sobre a capacidade do homem julgar cada experiência particular dentro de sua particularidade, e desde esse poder cognitivo, sua força absoluta, se elevar acima da sensação, atingir o nível do entendimento, reflexão - fazer a crítica de si na duração do em-si -; enfim, se tornar ser filosófico, racional.

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