quarta-feira, 10 de julho de 2024

um realista

a definição de inteligência, razão ou verdade a partir da adequação precisa da subjetividade às relações objetivas, que hoje organiza a prática de clínicas e psicólogos, possui sua razão no seio de uma sociedade naturalista como a capitalista. as correspondências entre a teoria de charles darwin e o liberalismo inglês foram muito rapidamente vistas por karl marx, não obstante a admiração deste pelo biólogo. uma teoria como a seleção natural, que determinava o sucesso e multiplicação estatística das formas de vida mais aptas às duras condições de vida, se por um lado é uma descrição cínica, sem desembaraço, da vida sob o imperativo do capital, por outro lado, é a lição por baixo da capa de auto-ajuda, muitas vezes açucarados, dos psicólogos e psicólogas que pretendem chamar de volta seus improdutivos pacientes à realidade das coisas (ou seja, a realidade do mercado, da produção). e quem irá dizer que estão objetivamente errados? não é, afinal, um corpo burguês que se recusa ou é incapaz de trabalho um corpo doente? vejam bem: um corpo aristocrático análogo é perfeitamente saudável, mas o burguês - e claro, mais ainda, o proletário - é definido como essa subjetividade economicamente produtiva, que deve desejar ser independente, constituir sua história de sucesso, ser self-made man, etc. que devem fazer os psicólogos e clínicos em geral não sei, mas sua reação é dada desde essa condição de enfermeiros do capital, remediadores de subjetividades darwinistas, que no entanto não se adequam às necessidades - seja necessidades econômicas, ou seja, objetiva, de conquistar dinheiro e meio de subexistir, seja as subjetivas, as demandas feitas para si próprio -. 

o castor, afinal, precisa, antes de mais nada, cortar madeira e montar seu dique para existir. deixo no ar, no entanto, o que seria o ser humano para além desse castor exemplar, completamente saciado no gozo do trabalho que aprendeu e deseja poder amar.

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