terça-feira, 16 de julho de 2024

uma aventura de zé agrippino e pedro antunes

o grande problema do vírus é que ele nos ensinou a temer a morte. é como estar na escola novamente, destinado a um purgatório dentro do inferno, diz josé agrippino de paula. chega sócrates e pelé, vestindo artigos esportivos. olha só quem está aqui, pelé, se não é o zé agrippino de paula, o famoso poeta marginal. ora, ora, diz pelé. josé agrippino sente-se intimidado e recua. o que querem comigo, seus cretinos?, diz, assustado. sócrates empurra josé agrippino na parede. toma, aberração! diz sócrates. pelé chuta o saco de josé agrippino. josé agrippino cai de joelhos.

todo dia em sua vida era assim. josé agrippino de paula vivia sua vida sem empolgação, mas também tinha seus bons momentos. às vezes ligava para os amigos da época da faculdade, namorava com uma menina ou outra. era apertado de grana, mas sabia viver. tinha bons amigos, gostava sinceramente de si.

josé agrippino de paula anda de skate pela cidade. eu seus fones de ouvido, toca a canção godless girl, do the chain gang of 1974. para diante dele um passaro advogado, de maletinha e tudo. com licença, senhor, mas você precisará ir ate a delegacia. pra delegacia? mas eu não fiz nada! exclama josé agrippino de paula. são as regras, senhor! diz o pássaro advogado.  josé agrippino de paula corre. peguem esse homem! berra o advogado, piando bem alto. diversos policiais pulam sobre josé agrippino de paula. dão dois socos na sua cara. ele é amarrado e levado para a polícia.

mais uma vez preso, heim, di paula! ri o delegado olavo de carvalho. cala a boca, velho. não aguento mais você falando merda. diz josé agrippino. que foi, di paula, cadê o seu interesse pela filosofia? o problema de bostinhas como vocês é que nam acreditam na verdade. diz olavo de carvalho. chega clarice lispector e segura o rosto de josé agrippino de paula, preocupada. em que merda você se meteu dessa vez, diz ela chorando e dando socos no pai. josé agrippino de paula tenta se proteger dos golpes de clarice. não queria te envolver nisso, filha. eu fiquei preocupada! diz clarice, e abraça o pai. prometo que vou diminuir na bebida, diz josé agrippino. vamos pra casa, diz clarice, olhando de cara feia para o delegado olavo. alguém quer ler mario ferreira? pergunta olavo.

kanye west está ouvindo hip-hop nas alturas. está tocando heartless, de sua autoria. 

Hey yo, I know of some things that you ain't told me, canta kanye west em um terno com neons e estampas de onça. 

Hey yo, I did some things but that's the old me, canta Kanye West, saindo de dentro de uma selva em país subdesenvolvido.

And now you wanna get me back and you goin' show me, diz Kanye West cheirando cocaína com os amigos,

So you walk around like you don't know me, diz Kanye West vendo jogo do flamengo com os amigos

You got a new friend, well I got homies, diz kanye west cheirando pô em cima das folhas de seu des rerum natura.

But in the end it's still so lonely, diz Kanye West, pulando sobre o sofá, drogado, de cuecas estampadas com pequenas oncinhas.

josé agrippino de paula chega em casa, junto de sua filha adriana calcanhotto. kanye, o que você está fazendo? não me diga que andou usando youtube de novo? diz josé agrippino de paula. ah, vai se foder velho. você é alcoólatra e tem flashbacks de lsd. não é exemplo para ninguém, diz kanye west. kanye, não fale assim com papai!, diz adriana calcanhotto. cala a boca, adriana! você só se coloca no lugar dele!, diz kanye west. você que não quer crescer, seu imbecil!, replica adriana calcanhotto. crianças, chega de discussão, diz José Agrippino. eu preciso deitar para mais tarde escrever. você sempre com essa porra eurocêntrica de escritor!, diz kanye west. foda-se, porra. vai lá samplear umas artistas jamaicanas, diz josé agrippino enquanto entra para o seu escritório. deita sobre o seu colchão e apaga a luz. puta merda, esqueci de pedro antunes.

na polícia, pedro antunes está amarrado em uma cadeira. um policial soca o seu rosto e enfia a sua cabeça em um balde.

Pedro Antunes entrega as algemas e sai da polícia. José Agrippino está do lado de fora, guardando a carteira. achei que nunca viria me salvar, Zé!, diz Pedro Antunes, aliviado. Tá tudo bem, só vamos logo para casa, diz José Agrippino. Ok, vô..., diz Pedro Antunes. E não diga pra sua mãe que você foi pego entrando em território americano com o meu DMT! diz josé agrippino. era só uma festinha em L.A., vô! a galera do brockhampton ia estar lá!

a galera do brockhampton aparece em los angeles, festejando sem sexualizar o corpo feminino. um hip-hop antenado e over-producted toca, e a banda se pinta de rosa choque. fazem dancinhas que aprenderam em intercâmbio em tribos da nova guiné. "i need a friend, i need a friend", canta a galera toda.

eu sei, eu sei, vocês querem ter o rock n' roll de vocês, interrompe josé agrippino. isso não é rock, o rock já está morto! diz pedro antunes, confuso. tá bem, tá bem, volte a ouvir às suas playlists de rock triste no spotify, diz josé agrippino de paula, impaciente. vamos de uma vez para casa! entre logo no carro! pedro antunes abre a porta e entra.

eu devia mesmo dirigir assim, doidão de DMT? pergunta Pedro Antunes. As drogas ampliam a sua mente, Pedro, diz Zé Agrippimo. Apenas concentre-se. Pedro quase atropela um mendigo. Ops, o que foi isso? pergunta Pedro, olhando pelo retrovisor. Acho que você atropelou uma capivara, Pedro, diz Zé Agrippimo. É a terceira só essa semana! Pedro abaixa a cabeça, envergonhado.

José Agrippino e Pedro Antunes entram em casa. Filho! exclama Clarice Lispector, aproximando-se. Estou bem, mãe... Ei, o que o John cage está fazendo aqui em casa? pergunta Pedro. Que John Cage? pergunta de volta a mãe. John Cage esta de pé, disfarçado de uma poltrona. não estou vendo nenhum John Cage! diz José Agrippino. Filho, o que fizeram com voce? diz Clarice enquanto abraça o filho.

é só deitar por alguns dias que ele irá estar melhor, maconha quando bate pode dar umas ondas dessas, diz José Agrippino. Sempre peço para o senhor não deixar o Pedro usar drogas! eu sei, amor! mas também sei que pedro está se tornando um homem, diz Zé Agrippino em sua defesa. Os dois saem do quarto e deixam Pedro sozinho. Puta merda, tá tudo derretendo... Saiam daqui, índios d cabeças gigantes! diz Pedro, de pijamas, revirando-se sob os lençóis. ele urra de dor. suas ideias estão turvas. um longo polvo amarra-o com seus longos tentáculos. e aí, bonitão?, diz o polvo, piscando em luzes verdes e vermelhas. seus lábios estão pintados de batom roxo e irão beijar a boca de Pedro. Zé Agrippino dá um tapa na cara de Pedro. Saia logo daí, Pedro, não temos muito tempo! diz José Agrippino. Vô, é você!, diz Pedro, escondendo a ereção entre as mãos. venha logo! diz Zé Agrippino, puxando o neto para fora de seu delírio. Os dois saem do quarto.

O que está havendo, vô? diz Pedro Antunes, tentando não esbarrar em nenhum dos monstros gelatinosos que imaginava existirem na sala de jantar. Lembra do velho Nelson Rodrigues? pergunta José Agrippino. O velho andou caindo em uma corrente do zap enviada pelo Olavo de Carvalho. Agora desatou a falar de esquerda, achando que tá ma guerra fria!

em seu escritório, Nelson Rodrigues está escrevendo sua crônica da ssmana. Deixe-me ver, deixe-me ver... diz o velho, batucando um samba sobre as teclas da máquina de escrever, os dedos como qhe dançando. toca o telefone. nelson rodrigues atende. quem... ah, oi, seu olavo! ah, sim, fico muito agradecido pelo senhor estar rezando por mim... não, tudo bem, somos católicos mesmo sem ir à missa... pois é, as esquerdas estão fogo... aquele karl marx era alcoólatra? sempre desconfiei! não irei me renunciar! amanhã mesmo irei publicar uma crônica ferina contra os costumes hipócritas de nossos revolucionários! Nelson desliga o telefone. Vira-se diante da máquina de escrever, com as mãos erguidas, ansiosas para trabalharem. mãos à obra! diz Nelson, e começa a escrever.

E aí?, pergunta Pedro Antunes. O que isso tem a ver com a gente?José Agrippino fica furioso. Responde, indignado: Foi você que achou uma boa ideia apresentar o imbecil do Olavo para o Nelson naquela festa que - ah! diz josé agrippimo de paula - eu fiquei doidão e dormi com a menina que conheci naquele grupo do facebook. Pedro se indigna e exclama: foi você que me levou para essa festa maluca! Tá bem! diz José Agrippino, limpando o suor da testa. Diz para o neto: Mas precisava ter contado pro Olavo que o Nelson lia Dostoievski? Pedro se indigna mais ainda: O silêncio estava constrangedor, Zé! eu já disse mil vezes! diz pedro. tudo bem, mas agora vai ter que me ajudar com o velho nelson, diz José Agrippino. Tá bem, tá bem... resmunga Pedro, cabisbaixo. Ele e José Agrippino saem da sala.

José Agrippino e Pedro Antunes estão no carro. Por que você está com tanta pressa? O que de tão grave poderia acontecer, é só o velho Nelson falando besteira mais uma vez! diz Pedro. Você não está entendendo, Pedro. Nos tempos delicados em que vivemos, uma crônica incendiária como a de Nelson é capaz de destruir a sociedade como conhecemos. Temos que destruir a fábrica do Correio da Manhã o mais rápido possível, diz José Agrippino. Em seguida, liga o rádio do carro. Uma primeira voz surge, dizendo: Se a pretensão do ninja é ser um assassino silencioso, não seria melhor não vestir nele uma roupa tão característica de ninja, como quem diz "olha, aqui, eu sou um ninja". Digo, seria mais produtivo andar vestido como um vivente qualquer e só esfaquear o desavisado! A segunda voz, em tom de desaprovação, diz: Sim, Rousseau! Acha que os ninjas não sabem disso? por isso que pararam de andar vestidos de ninjas. agora são todos entregadores do ifood. conseguem estar em qualquer lugar. os ninjas que você ainda vê por aí são na verdade mações disfarçados. desde que os ninjas largaram o uniforme, a maçonaria encobriu os seus rituais e negociações disfarçada de ninjas, sem que ninguém desconfiasse da sua verdadeira identidade. assim que se iniciou a grande guerra ninja maçônica, um conflito que ainda mata milhares de vida. claro que poucas sabem dessas coisas, pois ambas as partes prezam antes de mais nada pela discrição e... Rousseau interrompe e diz; Cala a voca, Voltaire, seu reacionário de merda! Escutamos o som de tiros. Parabéns, Pedro! Você causou a polarização na democracia representativa! exclama José Agrippino. Puta merda, diz Pedro. Melhor irmos de uma vez ver o Nelson. Pisa fundo e o carro acelera.

o que vocês querem? pergunta nelson. estão na casa de nelson. ele fuma cigarros e tem o colarinho de sua camisa aberta. josé agrippino de paula está impaciente: Você precisa fazer uma outra crônica resolvendo a crônica de hoje, diz. o que? como assim? é crime agora revelar que a esquerda tem problema com o povo judaico? Pedro intervém, em tom severo: porra, Nelson, eles estavam fazendo experimentos genéticos com criancinhas palestinas! Nelson retruca, como se não estivesse ouvido: e daí, uma coisa não anula a outra. José Agrippino suspira, cansado. Chega dessa palhaçada diz José Agrippino. Você não pode acreditar assim na verdade, Nelson. Ainda vai acabar vendendo a sua alma para o diabo. Tenho meu Deus aqui comigo, Agrippino. Sei bem por onde ando, diz Nelson. Então sabe que uma sociedade não pode subxistir por muito tempo polarizada assim, diz José Agrippino. Eu sei disso, Agrippino, diz Nelson. Sei muito bem disso. Estamos próximo do fim.

José Agrippino está em um bar, bebendo cerveja com Pedro Antunes. É isso mesmo? Não vamos fazer nada? diz Pedro. O que podemos fazer? O Nelson disse que não iria publicar uma retratação, e a sociedade já está até em processo de decomposição, olhe só! diz José Agrippino, mostrando um tweet em que uma empresa brinca de fazer meme. Atordoado, Pedro se afasta e senta diante da televisão. Liga aí, daqui a pouco começa o jogo, diz José Agrippino, sentado em sua poltrona. Pedro senta no sofá e liga. televisão com o controle remoto.

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