segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

NIETZSCHE INSULTA RENAN

Estava lendo O crepúsculo dos Ídolos e lá Nietzsche dirige um epigrama contra Renan, um filósofo francês que hoje ninguém mas lê, mas que até o início do século XX era ainda popular. Para Nietzsche, não havia qualquer restrição filosófica para que a filosofia não fosse feita por meio de insultos. E como grande especialista nessa arte, que escreve o seguinte sobre Renan:

Renan. — Teologia, ou a corrupção da razão pelo “pecado original” (o cristianismo). Testemunha disso é Renan, que, quando arrisca um Sim ou um Não de natureza mais geral, erra o alvo com penosa regularidade. Ele gostaria, por exemplo, de unir la science [a ciência] e la noblesse [nobreza]: mas a science é coisa da democracia, isso é algo bem palpável. Ele deseja, com ambição nada pequena, representar um aristocratismo do espírito: mas, ao mesmo tempo, põe-se de joelhos ante a doutrina oposta, o évangile des humbles [evangelho dos humildes], e não apenas de joelhos... De que serve todo o livre-pensamento, toda a modernidade, zombaria e volúvel flexibilidade, se em suas entranhas o indivíduo permanece cristão, católico e até sacerdote! Renan tem sua inventividade na sedução, exatamente como um jesuíta e um confessor; à sua espiritualidade não falta o amplo sorriso de padre — como todo sacerdote, ele se torna perigoso apenas quando ama. Ninguém o iguala nisso, em adorar de uma maneira mortalmente perigosa... Esse espírito de Renan, um espírito que enfraquece o nervo, é uma fatalidade mais para a pobre, doente França, doente da vontade. —Renan. — Teologia, ou a corrupção da razão pelo “pecado original” (o cristianismo). Testemunha disso é Renan, que, quando arrisca um Sim ou um Não de natureza mais geral, erra o alvo com penosa regularidade. Ele gostaria, por exemplo, de unir la science [a ciência] e la noblesse [nobreza]: mas a science é coisa da democracia, isso é algo bem palpável. Ele deseja, com ambição nada pequena, representar um aristocratismo do espírito: mas, ao mesmo tempo, põe-se de joelhos ante a doutrina oposta, o évangile des humbles [evangelho dos humildes], e não apenas de joelhos... De que serve todo o livre-pensamento, toda a modernidade, zombaria e volúvel flexibilidade, se em suas entranhas o indivíduo permanece cristão, católico e até sacerdote! Renan tem sua inventividade na sedução, exatamente como um jesuíta e um confessor; à sua espiritualidade não falta o amplo sorriso de padre — como todo sacerdote, ele se torna perigoso apenas quando ama. Ninguém o iguala nisso, em adorar de uma maneira mortalmente perigosa... Esse espírito de Renan, um espírito que enfraquece o nervo, é uma fatalidade mais para a pobre, doente França, doente da vontade. —

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