Há um conto de Borges - se não me engano, trata-se de uma glosa de um trecho de Croce - em que durante a invasão dos bárbaros contra Roma, houve um guerreiro bárbaro que, dislumbrado pela harmonia daqueles prédios, abarrotado pela visão desta coisas jamais vistas, mas que nelas pressentia algo de maior. O bárbaro foi tomado por um sentimento que o narrador não define, mas tão intenso ao ponto de fazê-lo não só renunciar às fileiras de seu exército, a seu povo, à sua terra, à sua família, mas empregar suas armas contra ela. O bárbaro, convertido em romano, partiu em defesa da civilização que jamais conheceu, apenas vislumbrou como sonho ou fantasia. Depois de morto, este homem foi enterrado e honrado não como um traidor , mas como legítimo romano. Às vezes imagino que já fui este bárbaro, que sem razão aparente, foi arrebatado pela sedução da cultura, da civilização, do saber, dos livros, do outro, pelo poder e felicidade que me prometiam.
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